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Pesquisa com ACS reforça formulação da Política de Proteção ao Idoso Dependente

 




O Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca apresentou os resultados da pesquisa Terapeuta da Vida: Agentes Comunitários de Saúde frente a idosos e vulneráveis, organizada pelas pesquisadoras Cecília Minayo e Patrícia Constantino, junto com Raimunda Mangas e Telma Freitas, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). 

O estudo traz um panorama sobre a assistência à saúde dos idosos, por meio do trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e aponta a importância da formulação urgente da Política de Proteção à Pessoa Idosa Dependente, discutida com os atores sociais que praticam os cuidados.



A pesquisa foi realizada com 100 Agentes Comunitários de Saúde que atuam em dez áreas de Coordenações Programáticas (CAP), organizadas entre os 162 bairros do município do Rio de Janeiro.

Concebido por meio do diálogo com os profissionais, através de ‘Rodas de Conversa’, os resultados do estudo mostram, acima de tudo, o trabalho incansável e dedicado dos ACS, grupo composto majoritariamente por mulheres e homens que constituem o braço longo e sensível do SUS nas comunidades.

De acordo com a pesquisadora emérita da Fiocruz, Cecília Minayo, que apresentou os principais resultados do estudo, a existência dos Agentes Comunitários de saúde precede a Estratégia de Saúde da Família (ESF). 

Desde sua criação, na década de 80, a proposta dos ACS é promover visitas aos domicílios da população de um determinado território e estabelecer um vínculo com suas famílias, com o objetivo de reconhecer suas necessidades de saúde e incorporá-las ao SUS, a partir da Atenção Primária.

Para Minayo, os Agentes Comunitários de Saúde têm uma tarefa árdua, por morarem, muitas vezes, no mesmo território que atuam, o que apresenta vantagens e traz também desvantagens "Os ACS atuam em situações ou espaços de vulnerabilidade social e de saúde. 

Desta forma, são mais afetados pelas dores e sofrimentos das pessoas que atendem, além de ter que lidar com os conflitos e violências que presenciam ou que muitas vezes também são vítimas", explicou ela.


Conforme destacado pela pesquisa, os Agentes Comunitários de Saúde são o braço do Sistema Único de Saúde nas comunidades, principalmente em relação aos cuidados com os idosos, sejam eles autônomos ou dependentes.

A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), de 2006, descreve que os idosos são divididos em duas categorias: os que mesmo precisando de alguma ajuda medicamentosa ou de qualquer outra natureza têm uma vida ativa, autônoma e independente. 

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, eles representam mais de 90% da população brasileira.

No entanto, o mesmo documento aponta que dos 17,3 milhões de indivíduos com deficiência encontrados na PNS, a maioria é formada por pessoas idosas com problemas físicos, de locomoção, cognitivos e mentais, o que significa a necessidade de ajuda permanente de uma terceira pessoa para sobreviver, ou seja, a segunda categoria, os idosos dependentes.

"Esse estudo mostra que 75% dos idosos dependem exclusivamente dos serviços do SUS, reforçando a responsabilidade do sistema público", apontou Cecília.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), dependentes são pessoas que vão perdendo a autonomia física, mental e cognitiva.

Elas são classificadas ainda, pelo grau de dificuldade e de necessidade de ajuda para realizar atividades da vida diária e atividades instrumentais da vida diária. 

Por exemplo, entre as atividades da vida diária estão se alimentar, se vestir, tomar banho, e usar o banheiro. Já entre as atividades instrumentais, estão a capacidade para administrar o próprio dinheiro, gerir a vida, cuidar da casa, e usar o transporte, entre outras.

Nesta perspectiva, a pesquisa Terapeuta da Vida, buscou compreender, através do método reflexivo e por meio da técnica de Rodas de Conversa, como está o cuidado com os idosos no município do Rio Janeiro, especialmente no que diz respeito a assistência prestada pelos ACS aos idosos dependentes. 

Buscou-se saber através do diálogo com os agentes, se existiam idosos abandonados, desnutridos ou dependes nos locais onde os ACS atuam; como os ACS procedem em relação às situações de idosos em fragilidade física, mental ou social; se o idosos dependentes recebem cuidados de familiares; qual a real situação daqueles idosos que vivem sozinhos; sobre a existência de rede de solidariedade e apoio aos mais vulneráveis ou acamados; e se existem iniciativas em relação aos idosos saudáveis para quem prologuem sua vida com autonomia.


Para isso, a pesquisa se estruturou em seis tópicos com temas considerados de relevância pelos ACS entrevistados, entre eles: a sociogeografia do trabalho dos Agentes e do atendimento aos idosos; o perfil dos idosos atendidos; a desestabilização do sistema de saúde devido a pandemia; a prioridade para os idosos nos serviços da Atenção Primária; a efetividade do Programa de Atenção Domiciliar ao Idoso (Padi); a rede de atenção formal e informal; e os casos de pessoas idosas vítimas de violência nos territórios da Atenção Primária.

Diante das diferentes experiências ouvidas durantes as Rodas de Conversa, os ACS elencaram propostas de ações efetivas para o cuidado aos idosos frágeis e dependentes, entre elas: ter um indicador específico para avaliar a atenção ao idoso, que possa ser acompanhado pelos Agentes Comunitários; ampliar o Programação de Atenção Domiciliar ao Idoso (PADI), incluindo os idosos que moram em comunidades; priorizar os idoso no agendamento das consultas, principalmente no que diz respeito ao tempo e ao local de atendimento; fazer um trabalho intensificado de conscientização sobre envelhecimento saudável com profissionais adequados para promover autonomia e melhoria da autoestima; incluir geriatra nas equipes de saúde das Clínicas; facilitar o acesso a profissionais de fisioterapia; promover formação especializada pra cuidadores; ampliar os grupos de convivência dos idosos; além de criar e ampliar o Consultório avançado, que já existe em algumas localidades, para facilitar a acessibilidade de idosos aos serviços de saúde oferecidos pelo SUS.

Por fim, a pesquisadora Cecília Minayo, que se dedica há décadas ao trabalho desenvolvido pelos ACS, destacou que o estudo aponta a importância da formulação urgente da Política de Proteção à Pessoa Idosa Dependente, discutida em sua totalizada, com os atores sociais que praticam os cuidados, com aqueles que recebem, com a academia, e com os gestores - para a efetiva implementação das ações. "Precisamos de investimentos crescentes em políticas de uso inovador de tecnologias para melhorar a competência e a capacidade de cuidar. E em todos os casos, há uma corresponsabilidade entre o Estado, a sociedade e a família", concluiu.

"Os ACS são escolha estratégica e inteligente para acompanhar os resultados e traçar propostas para o cuidado com os idosos, principalmente aqueles que estão dependentes e em vulnerabilidade." Rômulo Rangel


Referencia: Tatiane Vargas (Informe Ensp): Fiocruz

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