“Eu não
vim trazer a paz e sim a espada” (Mateus 10:34)
Para os
adeptos ao cristianismo contemporâneo essa frase de Jesus deveria ser aplicada
no Máximo de forma metafísica, em seu próprio mundo interno. Mas não é isso que
estou vendo. Tenho presenciado todo tipo de discurso tóxico de pacientes,
colegas e amigos. Parece que a intolerância está na moda e que estão tentando
transformar a violência em um ato de livre expressão. Esse absurdo fede a
sangue.
Dias
atrás estive na casa de um amigo. Sujeito fino, educado e que fala muito bem.
Minutos após iniciarmos o nosso bate-papo de costume, entramos na temática
religiosa e avançamos. Ele assumiu uma postura impositiva na conversa mudou o
tom de voz e, em suma, defendeu os temas seguintes:
1) TODOS devem aceitar a luz da verdade do Deus único;
2) O Deus
da bíblia e os seus mandamentos como solução para todos os conflitos do mundo;
3) A
importância da “imunização” dos jovens contra livros clássicos de literatura e
filosofia. Estes deveriam ser lidos apenas sob a luz bíblica;
4)
Irritação quanto à maneira “mole” e "afeminada" como alguns alunos do curso de medicina
falaram na câmara de vereadores;
5)
Irritação quanto às roupas, cores e cortes de cabelo das alunas de
instituições de ensino público superior;
6) A
importância do cidadão de bem impor as suas crenças politicamente aqui na terra
enquanto não vai para o céu;
Foi fácil
ouvir o sibilo da víbora que tem envenenado a humanidade: a
intolerância travestida de opinião. Devo dizer que conversamos por mais de
quatro horas. É sempre um desafio conversar com alguém preenchido de tanta
“absoluta certeza” quanto “a vida, o universo e tudo mais”. Essas pessoas
gostam muito da própria voz, falam largamente, não aceitam questionamentos em
seu espaço de fala até que concluam sua divina opinião. Já o espaço da minha
fala, foi um exercício de paciência budista. Enquanto desenvolvia o meu
discurso, tive que lembrar incontáveis vezes que aquele era o meu momento de
explanação e não o dele. A conversa assumiu um caráter circular.
É muito
difícil dialogar com um absolutista, não pelos seus argumentos, mas pelos
recursos paralelos que eles costumam utilizar, como piadas, aumento exagerado
do tom de voz e deboches, contudo a história nos ensina que o dialogo ainda é o
meio de transformação mais sustentável.
Eu trouxe
à luz da conversa que:
1) Em
cada cultura e credo, existe algo que é relevante para os demais, por mais
diferentes que sejam entre si;
2) A
ultima meta da crença/religião é o amor. Todas as religiões e crenças são
conseqüentemente válidas, e sua aceitação tem de ser baseada na liberdade e
numa opção consciente e espontânea. De outra forma, a religião não teria como
meta o amor;
3) A
liberdade de pensamento crítico na leitura de livros e do mundo é essencial
para crescermos enquanto pessoas e sociedade, evitando assim um novo momento de
escurecimento histórico;
4) Muitos
homofóbicos não se consideram homofóbicos e apontam outros como responsáveis
por essa questão;
5)
Homofóbicos tendem a ter perfil: A maioria tem formação cultural conservadora.
Vêm de famílias muito autoritárias. Irritam-se com o gestual dos outros e sua
estética. Muitas vezes atacam em grupo e sofrem influência de lideres
religiosos extremistas.
6) O amor
ao próximo não deve ser reduzido ao favoritismo conveniente aos seus "irmãos de igreja" , mas sim, manifesto como respeito à individualidade do outro independente da forma como se veste, se movimenta, pinta ou corta o cabelo, ou de quem essa pessoa ama. Amor ao próximo é ter compromisso com a proteção, bem estar e acesso a direitos de todos.
Saí de lá
ainda mais convicto de que a melhor forma de exercitar e provocar a tolerância
é abrir espaço para diálogo sobre a liberdade do indivíduo e deixar cada um
manifestar sua existência respeitando o seu espaço e a sua
individualidade. É no terreno fértil da conversa que lançamos essas sementes. Cada
uma germina a seu tempo.
Não se
intimide numa situação envolvendo proselitismo ou evangelização!
Além de
ser chato e inconveniente pode caracterizar crime. É necessário respeitar a individualidade de cada um seja no tocante à crença, maneira de se apresentar ao mundo ou forma de amar.
Lembre-se: Garantir a liberdade
do outro também é assegurar a sua!
Saiba
mais: A Lei n.º 7.716/89 (Lei Caó) do Código Penal diz : a) ofender alguém com
xingamentos relativos à sua raça, cor, etnia, religião ou origem. (Art. 140 do
Código Penal (injúria), com a qualificadora do §3º. Pena: um a três anos de
reclusão). Inclui-se aqui o ato de ofender alguém com xingamentos à sua
religião.
👏👏👏👏👏
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